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É NO CAÇUÁ - NEUFONTES
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Publicado em 19/04/2022

Em 1984, a convite de Jorge Lins, participei, como jurado e fiz junto com Paulo Lobo o show de encerramento do primeiro Festival Novo Canto, festival estudantil criado na Fundação Estadual de Cultura, a conhecida FUNDESC, pela equipe de cultura que era composta por Jorge Lins, Sucupira, Antônio Amaral e Acássia Barreto.

O Novo Canto foi uma iniciativa importante para a música sergipana, lançando no mercado muita gente boa, Chico Queiroga, Antônio Rogério, Kleber Melo, Nino Karvan, Doca Furtado, Gil Castro, Cris Emmel, Gena Ribeiro, Thiago Ribeiro, Pantera, Marcus Aurélio entre tantos outros que figuram ainda hoje na nossa música.

É NO CAÇUÁ 1/8 NEUFONTES CANTOR, COMPOSITOR, PUBLICITÁRIO E GESTOR CULTURAL WWW.CINFORMONLINE.COM.BR ANO 4 - ED. 236 - 18/4/2022–62 Lembro muito bem de uma banda que tinha umas figuras bem engraçadas e talentosas.

A cantora dançava muito com uma roupa toda de fita e que o pessoal chamava de Elba Retalho, mas ela dava o recado bem dado, tinha dois violões, um violino, bateria e um músico grandão que tocava flauta e percussão.

Era a Band’Auê que tocava uma música bem regional e que marcou história se apresentando nos melhores palcos do estado, Festival de Artes de São Cristóvão, Laranjeiras e ainda participou do Projeto Pixinguinha como atração local.

Dois desses músicos fizeram uma dupla para fazer barzinho e dessa tentativa de espaço para mostrar o trabalho criaram uma das duplas mais importantes da música sergipana, Sena & Sergival. Acompanhei a carreira da dupla, uma carreira de sucesso e que durou 10 anos.

De 1988 até 1998, a dupla representou Sergipe em vários festivais nacionais, fez shows de abertura para grandes estrelas da música nordestina, bem como participação no Projeto Seis e Meia, Canta Nordeste, festejos juninos e na GERAL | CULTURA 2/8 WWW.CINFORMONLINE.COM.BR ANO 4 - ED. 236 - 18/4/2022–63 noite sergipana.

Sena um grande músico e cantor Cearense com a alma e coração sergipano, era a base melódica e canto da dupla, membro da Polícia Militar, dividiu sua vida com as duas carreiras.

Sergival, sergipano de Nossa Senhora da Gloria, formado em edificações, entrou para a Petrobrás, exercendo ofício de Projetista Mecânico, tocava flauta e percussão e era o performático da dupla. No início dos anos 90, Sergival me procurou para conversarmos sobre gravação, mercado, disco.

Ele e o Sena queriam gravar o primeiro álbum da dupla e comecei a conhecer melhor o sertanejo Sergival.

Nessa conversa ele me convidou para produzir esse álbum.

Fiquei de pensar, mas disse para ele que teríamos quer ter vários outros encontros, incluindo o Sena, pois só acredito em uma produção eficaz quando o produtor conhece muito bem o produto a produzir.

No caso, eu precisava conhecer melhor a dupla, suas características, seus talentos e as dificuldades. GERAL | CULTURA 3/8 WWW.CINFORMONLINE.COM.BR ANO 4 - ED. 236 - 18/4/2022–64 Depois de algum tempo aceitei o desafio e tivemos diversas reuniões, bate papos, ouvimos e falamos sobre música e histórias.

Começamos a planejar o álbum e definir os formatos, mas me incomodava muito o fato de Sergival não ter uma participação efetiva na dupla. Musicalmente, as músicas eram parcerias dos dois ou de cada um separadamente.

Eu precisava que a dupla de fato se concretizasse, queria que o Sergival cantasse, fizesse vocal, fazendo segunda voz e solos além de tocar a flauta e as percussões de efeito.

A dupla aceitou a ideia e começaríamos a trabalhar de fato o álbum deles.

Já nos conhecíamos, já havia uma confiança mútua, estávamos prontos para entrar no estúdio.

Em 1994, participo do Canta Nordeste com a música Bacamartada, música que todos apontavam, junto com Salada Tupiniquim de Ismar Barreto, como as favoritas.

Uma das juradas me deu zero, e justificou que eu estava plagiando os Bacamarteiros de Carmopólis, grupo de cultura popular que se GERAL | CULTURA 4/8 WWW.CINFORMONLINE.COM.BR ANO 4 - ED. 236 - 18/4/2022–65 apresentava comigo no palco do festival.

Como diria minha bisavó “quem tá na cozinha, tem que lavar pelo menos o prato”, assim coloquei a viola no saco e fui para casa. No ano seguinte, coloquei no mesmo festival Baton da Alma e convidei a Gena Ribeiro para ser a intérprete, cantora de primeira linha das vozes femininas do Brasil, ela arrasou e ganhou todos os prêmios.

Os insatisfeitos processaram a emissora de comunicação que realizou o evento, pedindo para reverter o resultado, diziam eles que eu não poderia ganhar, pois era o coordenador, uma grande mentira e arrogância de artistas chateados com o talento da Gena. Um documento foi feito e alguns artistas asassinaram. Entre os nomes estavam os de Sena e Sergival.

Foi um choque, pois, estávamos trabalhando há pelo menos um ano e meio no álbum dos dois e achava que eles não entrariam nessa cilada alimentada pelos egos inflados de alguns.

Passaram-se alguns dias e recebi uma ligação do Sergival, GERAL | CULTURA 5/8 WWW.CINFORMONLINE.COM.BR ANO 4 - ED. 236 - 18/4/2022–66 perguntando quando retomaríamos o trabalho.

Sempre fui muito transparente nas minhas relações e disse para ele: como é que os dois queriam continuar um trabalho com uma pessoa tão má, que participa de um festival e para ganhar usa de ações cretinas e que eles acreditaram em tudo e ainda assinaram um documento. Numa reação de raiva, bati o telefone. À noite, os dois estavam na minha casa atordoados sem saber o que estava acontecendo. Ainda muito chateado, recebi os dois e mostrei o documento e do que se tratava.

Ouvi dos dois que o documento que eles tinham assinado era outro e com teor diferente e que algumas pessoas usaram de má fé. Pediram desculpas e saíram dizendo que iriam na emissora retirar os nomes deles, pois foram enganados. Fui informado depois que eles fizeram o prometido.

Mesmo assim deixei a produção e soube que eles estavam entrando no estúdio, o Sergival ainda me convidou para assistir uma gravação, GERAL | CULTURA 6/8 WWW.CINFORMONLINE.COM.BR ANO 4 - ED. 236 - 18/4/2022–67 passei rapidamente e logo fui embora. Tempos depois soube que a dupla tinha sido desfeita.

Em 1999, inaugurei o estúdio Capitania de Som, e recebi algumas vezes o Sergival para conversas longas, ele me contava seus projetos e ideias para a carreira solo, o que pensava de cada assunto e ficamos amigos. Mas, foi em 2004 que o Sergival chegou todo alegre pois estava pronto seu projeto de gravação e ele queria compartilhar comigo e contava com a minha colaboração.

As coisas do caçuá foram gravadas e mixadas no estúdio Capitania do Som, com participações importantes de artistas e músicos locais e nacionais: Dominguinhos, Alcimar Monteiro, Ismar Barreto, João Sapateiro, Vem Vem do Nordeste, Renato Piau, Chico Queiroga e Antônio Rogerio, Valdo França entre outros um disco importante para a carreira de Sergival.

Carreira construída com muita determinação, criatividade e talento: As coisas do caçuá (2008); Festança (2016); GERAL | CULTURA 7/8 WWW.CINFORMONLINE.COM.BR ANO 4 - ED. 236 - 18/4/2022–68 30 anos (2017) têm participação em vários outros trabalhos.

Foi pré-selecionado em 2016 para o prêmio da Música Brasileira em duas categorias: Melhor Cantor Regional e Melhor Álbum Regional.

Um inquieto artista e fomentador da cultura.

Sergival muda-se para o Rio de Janeiro e lá apresenta o programa ‘Puxando o Fole’ na rádio Nacional - principal veículo da Época de Ouro do rádio brasileiro - e conquista a inclusão da sua biografia no Dicionário da MPB e na cadeira sete da Academia Brasileira de Literatura de Cordel.

Sergival é agraciado com o Prêmio Grão de Ouro, entre outras honrarias. O sergipano Sergival apostou tudo no seu caçuá de ideias, com seu jeito de Jeca, ele chega com jeitinho e cuidado, vai convencendo todo mundo dessas ideias.

É amigo, honesto, humilde em suas atitudes, profissional no seu fazer e uma referência de Sergipe em qualquer lugar do planeta. GERAL | CULTURA 8/8 lNeu Fontes – Cantor, Compositor, Publicitário e Gestor Cultural.

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