Zezinho Guimarães: “Estão usando as Prefeituras de Sergipe para conseguir mandatos eletivos”
A denúncia é grave, tem autor e tem endereço. “A coisa é séria: tem Prefeituras com mais de quatro mil pessoas contratadas para fins políticos e eleitorais. Isso torna a luta desigual”.
O autor dessas afirmações aí acima é o deputado estadual Zezinho Guimarães, PL, candidato a deputado federal. “Em Itabaianinha estão pagando salário de R$ 400 para fazer um cabo eleitoral. Com salário da Prefeitura. Com contratozinho de R$ 400 para dizer que uma pessoa é monitora de transporte. Isso é um absurdo”, reforça Zezinho.
“A gente está assistindo, pela primeira vez, uma coisa absurda em Sergipe. As eleições se tornaram muito mais do que um negócio. As contas das campanhas estão destruindo as Prefeituras”, diz ele. Veja mais nessa breve entrevista que ele concedeu à Coluna Aparte nesta terça-feira, 6.
Aparte - A 26 dias da eleição, qual é a avaliação que o senhor faz da sua campanha pela Câmara Federal?
Zezinho Guimarães - Acho que faço uma campanha boa, com uma boa aceitação das pessoas. As lideranças políticas têm aceitado bem as minhas ponderações, os meus projetos, a minha visão de mandato na Câmara Federal. Mas acho que o povo de Sergipe precisa avaliar bem os seus representantes.
Aparte - Qual é a sua visão da representação de Sergipe na Câmara Federal?
ZG - Eu acho que a Câmara é um lugar muito sério e importante para Sergipe para estar se brincando de primeiro emprego.
Aparte - E é isso que os representantes de Sergipe têm feito ultimamente?
ZG - Não é bem o que tem feito. Falo de quem pleiteia fazer, e é aí que se desfigura – mas hoje gente está brincando de Câmara Federal. A Câmara é um espaço para coisa séria - e a gente está há 30 anos com a BR-101 precisando ser duplicado urgentemente e na situação de inconclusa. A BR-235 precisando ser duplicada urgentemente. Há 40 anos que se fala em Canal de Xingó e não se tem nada. São obras estruturantes, de viabilidade importantes para o desenvolvimento de Sergipe e a gente não vê nada. A gente só vê “emendinhas”. A turma preocupada com emendas parlamentares para fazer calçamento a paralelepípedos, para asfaltos de formas irregulares.
Aparte - De forma central: qual é o objetivo básico e elementar de um mandato de deputado federal?
ZG - Eu acho que é o de cuidar, primeiramente, dos interesses maiores de Sergipe e do seu povo.
Aparte - Mas calçar rua não é interesse de Sergipe e de seu povo?
ZG - Eu acho você precisa escolher prioridades. E a primeira prioridade é Sergipe. Você acha que é mais importante cuidar das BRs-101 e 235, das outras rodovias importantes, estruturantes para Sergipe, ou cuidar de um asfaltamentozinho em um povoado que não tem nada a ver? Eu acho que é importante, sim, o povoado. Agora é o seguinte: o quê que é fundamental e o quê que é prioridade entre as BRs e uma obra de povoado? Essa é a questão.
Aparte - Voltando ao brinquedo: o senhor acha que a busca por um mandato para Yandra de André é esse um brinquedinho?
ZG - Eu não acho que seja só um mandato para Yandra de André não. Tem tantas outras Yandras hoje por aí. O mais grave é que estão usando as Prefeituras de Sergipe para conseguir mandatos eletivos. Ou você não acha que é assim? Estão abusando. Gastando verdadeiras fábulas do dinheiro público para se eleger representantes.
Aparte - Mas o Ministério Público Eleitoral não está vendo isso?
ZG - Olhe, eu não posso dizer que não está ou que está. Não posso avaliar aqui. O que eu posso dizer é que a gente está assistindo, pela primeira vez, uma coisa absurda em Sergipe. As eleições se tornaram muito mais do que um negócio. As contas das campanhas estão destruindo as Prefeituras.
Aparte - Para eleger gente?
ZG - Sim. Estão carregando (as Prefeituras) de cargos públicos. A coisa é séria: tem Prefeituras com mais de quatro mil pessoas contratadas para fins políticos e eleitorais. Isso torna a luta desigual.
Aparte - O senhor citaria uma?
ZG - Cito mais de uma. Lagarto é uma delas. Itabaianinha é outra. Em Itabaianinha estão pagando salário de R$ 400 para fazer um cabo eleitoral. (Thiago de Joaldo, PP, irmão do prefeito de Itabaianinha, Danilo de Joaldo, é candidato a deputado federal).
Aparte - Com dinheiro público, recursos da Prefeitura?
ZG - Com salário da Prefeitura. Com contratozinho de R$ 400 para dizer que uma pessoa é monitora de transporte. Isso é um absurdo. Estão pagando a mais de 100 pessoas. Mas tem coisa errada em Capela, em Socorro, em Umbaúba, em Lagarto, em Aquidabã.
Aparte - Isso pode mascarar o resultado da eleição?
ZG - Pode. Aliás, acho que isso não só mascara. Isso tira o brilho de uma eleição, porque você acaba comprando o mandato. O quê que você me diz de levar uma pessoa que nunca exerceu cargo público, que nunca exerceu mandato público, a receber apoio de prefeito do Alto Sertão, dizendo que aquela é a figura mais importante da vida porque vai ajudar a sua cidade? Essas coisas estamos assistindo abertamente.
Aparte - O senhor quer estranhar que uma pessoa que nunca exerceu um mandato público vá diretamente para a Câmara Federal?
ZG - Eu acho que pode até ir. Eu só acho que para a Câmara o povo precisava avaliar a experiência, o comportamento, as coisas que creio que são primordiais. É como diz um amigo meu: “olhe, princípio não se negocia”.
Aparte - Agora, nesse balaio de coisas que o senhor está vendo como aparentemente erradas, quais são suas chances de chegar lá?
ZG – Olha, quem sabe é o povo e Deus. Deus e o povo. Agora, tenho certeza de que, se chegar lá, eu não vou só procurar corresponder. Eu vou corresponder pela minha experiência, pelo que eu já passei, já exerci na minha vida, pelo que exerço hoje, pela minha compreensão da necessidade de uma reforma tributária justa, onde o pobre pague menos imposto do que o rico, por uma legislação que proteja, de certa forma, não só as mulheres, mas os mais carentes. Enfim, por uma conjuntura de coisas que acho que o Brasil precisa avançar. Eu chegando lá é alguém consequente, com maturidade, com expertise e com capacidade para fazer.
Aparte - Quem do seu partido lhe ajudaria a atingir os 135 mil votos do coeficiente?
ZG - Hoje o meu partido, inclusive, está com um sério problema por causa da cota de mulheres, que está havendo desistência. E da cota de homens, que a gente sequer está seguro de que as pessoas irão.
Aparte - Quais são os cinco nomes mais notáveis do seu partido hoje?
ZG - Tem eu, Bosco Costa, tem aí uma incógnita sobre se Talysson de Valmir vai ou não. Tem uns dois militares e tem Adir Machado, que ninguém sabe se Valdevan Noventa vai ou não e tira ele. (Adir Machado já comunicou desistência).
Aparte - Mas se não for Talysson, deve ir um irmão dele. Isso não ajuda?
ZG - Eu não sei se isso ajuda ou não, até porque a gente precisa não só disso, como de fatos concretos. Essas hipóteses que a gente imagina: “Ah, fulano não pode, bota um filho”, “Não pode, bota um sobrinho”. Não pode e não sei o quê, e isso vai dar o mesmo resultado? Isso é o povo que decide, portanto é uma incógnita.
Aparte - O senhor tem recebido ajuda do fundo eleitoral de campanha?
ZG - Até agora, zero. O dinheiro desse fundo é um estelionato eleitoral. Só serve para aguçar a sanha da população contra nós políticos. Eu mesmo recebi zero em recursos até agora.
Foto: César de Oliveira