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“Não existe Justiça para o povo indígena”, diz cacique Bá no Dia dos Povos Indígenas
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Publicado em 19/04/2023
Ascom/Funai

Na manhã desta quarta-feira, 19, Dia Nacional dos Povos Indígenas, o Jornal da Fan conversou com o Cacique Bá, liderança do povo indígena da Aldeia Xokó, localizada na região da Ilha de São Pedro e Caiçara, situadas no município sergipano de Porto da Folha, Sergipe.

Neste dia tão especial, o Cacique Bá disse que todo o povo da Aldeia Xokó irá comemorar o dia com ritos, cânticos tradicionais e danças, como o Toré, uma manifestação cultural de grande importância para os indígenas, que envolve toda a tradição, música, religiosidade e brincadeiras. A cerimônia inclui, ainda, uma dança circular, executada em pares ou em fila, que é acompanhada por cantos embalados ao som de instrumentos típicos, como maracás, zabumbas, gaitas e apitos.

As cerimônias e a celebração contarão com a cobertura da imprensa local, o que, para a comunidade Xokó, representa uma oportunidade de ter mais visibilidade por parte da sociedade e do poder público no que diz respeito à cultura e às demandas dos povos indígenas Sergipanos.

“A TV vai comparecer e fazer uma reportagem, o que vai ser bom para que a gente tenha mais visibilidade. Para nós, o dia dos indígenas é todos os dias, mas esta é uma oportunidade de mostrarmos um pouco da nossa realidade”, disse o líder indígena.

O cacique aproveitou para falar sobre a relação dos povos indígenas com o poder público, ao ser questionado sobre a presença e a atuação do Estado na assistência às demandas dos povos indígenas sergipanos.

‘’A gente sabe que não é fácil, todo lugar sofre com alguma coisa, mas sobre a Educação, estamos recebendo atenção e tendo um bom acompanhamento por parte do Estado. Sobre a questão econômica, a gente vive como qualquer outro povo indígena vive, com o apoio de programas do governo e retirando recursos do próprio território, porque nós temos terra e temos água, então é usar o que temos de melhor, que é a coragem, e é trabalhar para viver”, declarou o cacique.

Cacique Bá também salientou que, hoje, um dos maiores desafios dele, enquanto liderança indígena, é manter viva e acesa a chama da cultura e das tradições dos povos originários.

“Se a gente tivesse um projeto permanente para que a gente não perdesse a nossa juventude, seria bom. Porque um dos maiores problemas que enfrentamos, hoje, é ver nosso povo nascer, crescer e depois ir embora por falta de oportunidades e de investimentos que façam nossa juventude permanecer em nosso território. Outro problema que a gente enfrenta é a tecnologia, que tira as pessoas dos nossos costumes. Então, se tivéssemos algum investimento nesse sentido, seria muito bom”, ressaltou Cacique Bá.

Apesar de ser uma importante data a se celebrar, o Cacique Bá afirma que os povos indígenas brasileiros não têm muito o que comemorar. “Na verdade, o dia do indígena é todo dia. Não podemos nem dizer que a data é uma comemoração, pois só se comemora quando todo mundo está bem. Nosso povo morre todo dia por falta de território. Todo dia morre índio. Essa data serve para a gente mostrar essa realidade, mas, festa mesmo, acredito que não há, porque não existe Justiça em nossa sociedade para o povo indígena. E isso não é de agora, é de longas datas”, desabafou o líder.

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