Em denúncia levada ao Ministério Público de Sergipe (MP/SE), o advogado Josefhe Barreto relatou ter sido alvo de uma suposta abordagem truculenta por parte de agentes do Batalhão de Polícia de Choque, da Polícia Militar de Sergipe, na madrugada desta segunda-feira, 13, em Aracaju.
Segundo Josefhe, ele foi reconhecido por um dos policiais, rotulado como alguém “acostumado a tecer críticas à Polícia Militar”, e, sob acusação de embriaguez ao volante, teve o próprio veículo recolhido.
O advogado narra que a ação aconteceu no bairro Industrial, na Zona Norte da capital, quando retornava de uma festa. No caminho para sua residência, na Barra dos Coqueiros, ele teria se deparado com uma abordagem na Avenida Antônio Assis Xavier, que obstruía a via. Ele afirma que começou a filmar a ação após verificar uma suposta conduta ilegal dos agentes.
“A abordagem demorou muito e eu comecei a ficar um pouco impaciente no fundo do carro da polícia, meu carro estava bem no fundo. Só que eles saíram de um rapaz que estava sendo abordado e, eu tenho até o vídeo gravado, tinha uma mulher amamentando, e o policial foi abordar a mulher com a criança no colo, ela estava com o seio pra fora, amamentando. Ele pediu para revistar a bolsa dela, e eu achei estranho aquele tipo de abordagem e comecei a filmar”, contou Josefhe.
De acordo com o advogado, após começar a filmar a abordagem à mulher, ele também foi interceptado.
“O policial que estava abordando a menina já se direcionou a mim. Ele disse: ‘Ah, eu conheço o senhor, conheço muito bem o senhor, o senhor é acostumado a tecer críticas à Polícia Militar’. Aí eu falei: ‘Ah, então é esse o motivo de eu estar sendo abordado?’, aí ele falou: ‘É, e agora o senhor está preso por embriaguez’”, completou.
Josefhe afirma que a Companhia de Policiamento de Trânsito (CPTran) foi acionada e revistou o carro, mas nada de ilegal foi encontrado. Apesar disso, ele relata que foi autuado pela Polícia Militar.
“Eles perguntaram se eu queria fazer o teste de alcoolemia, mas eu disse que só fazia na delegacia. Eles não me apresentaram auto de infração, eu não sei nem qual foi a multa que eu peguei, e botaram meu carro em um guincho. O policial disse que eu não estava em condições de dirigir, mas eu disse: ‘Se eu estou embriagado, me leve pra delegacia e lá a gente resolve, vocês vão tem que provar que eu estou embriagado’. Eles não me levaram pra delegacia, me deixaram em via pública”, disse ele.
Segundo o advogado, toda a abordagem se deu de forma ilegal, e por isso, decidiu levar o caso ao Ministério Público. Ele afirma que a Ordem dos Advogados do Brasil seccional Sergipe (OAB/SE) também será notificada sobre o assunto.
“Quer dizer, eu fui abordado porque estava fazendo um registro de algo ilegal que eles já estavam fazendo, que era abordando a mulher. Acharam pouco e ainda vieram me abordar, fizeram tudo dentro da ilegalidade. E ainda fundamentando porque eu era uma pessoa conhecida e que tecia comentários negativos sobre a Polícia Militar. Quer dizer que a gente não pode se manifestar sobre o que eles cometem? Aí agora eu vou virar alvo da Polícia Militar por conta da minha advocacia?”, finalizou.
Procurada pelo Portal Fan F1, a Polícia Militar de Sergipe informou que a ocorrência teve início após o Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciosp) receber a informação de que indivíduos estavam efetuando disparos de arma de fogo em vias públicas da região. O Batalhão de Polícia de Choque foi, então, acionado para o caso.
“Quando [a polícia] chegou nesse local tinha um grupo de pessoas, alguns que batiam características, e foram fazer abordagem. Tinha uma senhora lá, uma mulher que estava amamentando, estava com bolsa, foi vista a bolsa, até porque é costume de alguns meliantes passarem a arma para a mulher, visto que acham que a guarnição não vai fazer abordagem nela. Tinha uma policial feminina e foi feita a abordagem também, mas não encontrou nenhuma arma de fogo, nenhum ilícito”, disse o porta-voz da PM, tenente-coronel JLuiz.
O agente também detalhou a versão da PM de como se deu a abordagem ao advogado Josefhe Barreto.
“Esse cidadão, com um carro escuro, parou atrás da viatura e ficou filmando. E aí foi feita a abordagem, achamos uma atitude suspeita. Como é que um carro preto, escuro, em um lugar um pouco ermo, fica filmando uma abordagem da polícia? Então foi feita a abordagem no carro, foi feita a abordagem nele, mas não foi encontrado nenhum tipo ilícito. Entretanto, ele começou a se negar a entregar documento do veículo, a entregar a sua habilitação para ser averiguada. Foi solicitada a presença da CPTran, mas ele recusou-se a fazer o exame do bafômetro”, completou.
Com relação à alegação de recolhimento do veículo, o representante da corporação também explicou as circunstâncias.
“O veículo só é liberado para uma pessoa habilitada após ser submetida ao exame de bafômetro. Ele não apresentou essa pessoa e, conforme o código de trânsito, a gente removeu o veículo para o pátio”, foi exposto.