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OS NOBRES DO PAÍS DO FORRÓ XI ETA ESTÂNCIA BOA!
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Publicado em 16/07/2024

Quando ouvi pela primeira vez na voz de Rogério, “Eta festa gostosa, eta São João bom danado, vem gente de toda parte tem forró pratodolado”,pensei:essatemqueserde alguém apaixonado por Estância. Essa canção de Raimunda Andrelina e Batista do Acordeon, gravada no disco “Estrela Guia” do nosso saudoso Rogério, me remete à minha infância, quando minha tia Magarethe me levava de Aracaju para passar as férias na Cidade Jardim, na casa dos meus avós maternos, na Rua Pedro Homem da Costa. Lembro que a melhor época


era as férias de meio de ano, pois coincidia com as festas de São João, o melhor momento da cidade, onde tudo se transformava em um enorme arraial, com muitas festas, buscapé, fogueira, barco de fogo, maniçoba, milho verde, canjica e muito forró.

Na juventude, o que mais gostava eram as guerras de buscapé e as corridas de barco

de fogo. Depois, ia com os amigos aos bailes

no Cruzeiro, na AABB ou no XPTO, para ouvir

a banda Unidos em Ritmo com os cantores Rogério, Pedro Antônio e os trios de forró. Assim, fui construindo meu gosto musical junino.

Estância sempre foi

um celeiro de talentos

e criatividade. É

uma cidade de

muitas histórias e

intelectualidade,

que sempre recebeu

e acolheu todos

os que chegavam,

transformando-os

em estancianos de

corpo e alma. Sendo

a cidade mais pujante

economicamente da

região, atraía pessoas

das regiões vizinhas, como Itabaianinha, Arauá, Indiaroba, Boquim, Santa Luzia, Esplanada, Entre Rios, entre outras, que se mudavam na esperança de conseguir um emprego melhor, colocar seus filhos em bons colégios e estar próximos do progresso que a cidade vivenciou no século passado.

Minha vivência na cidade é familiar, mas minha alegria foi conhecer tantos artistas, músicos e cantores que fizeram e fazem



história na cidade e no nosso estado. O mais famoso deles, meu amigo Rogério, fez sucesso ao apresentar sua cidade com “Estância, Forró e Folia” e, posteriormente, o estado

com “Chamego Só (País do Forró)”. Sempre inteligente, Rogério buscava em compositores locais seus sucessos e reencontrou uma das maiores compositoras de Sergipe, Raimunda Andrelina, nascida em Itabaianinha, mas estanciana de coração. Conhecida por todos, com suas composições de forró e canções nordestinas, muitas em parceria com outro filho de Itabaianinha, Batista do Acordeon, abordando o amor, a felicidade, a saudade e seu grande amor por Estância.

Raimunda começou sua vida como compositora criando paródias para jingles políticos ainda muito jovem. Logo depois, fez sua primeira composição, um samba. Foi o amigo e vizinho Batista que pediu para ela fazer uma canção de forró para apresentar

ao Trio Nordestino. Batista, além de grande músico e compositor, era filho de Seu Dedinho, um importante músico e exímio afinador de sanfona, transformando-se no afinador oficial de Luiz Gonzaga. Por lá, andavam vários nomes da sanfona do Brasil. Assim, Raimunda escreveu seu primeiro grande sucesso em parceria com Batista, “Chap, Chap”, que diz

no refrão: “Chap, chap, chap chinela no chão; Chap, chap, chap bota lenha na fogueira; Chap, chap, chap requebrando no salão; Chap, chap, chap, é forró a noite inteira”. O Trio Nordestino gravou em 1976 e transformou-se em um grande sucesso. No mesmo ano, ela teve outra canção, “São João Chegou”, gravada no disco “Quebra Pote”, uma coletânea da Gravadora

Copacabana pela cantora paraibana Lucymar. Foi quando ouvi falar dela pela primeira vez.

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 Raimunda é

uma criadora

de sucesso,

já compôs

centenas de

canções, gravadas por muitos artistas

como Flavio José, com “Fomos Feitos Um Pro Outro” no CD “Sem Ferrolho e Sem Tramela”, “Estância, Forró e Folia” – Rogério, “Estância, Trinta Dias de Forró” – Zé Taquari, “Samba de Coco” – Jorge Maravilha, “São João tá me chamando” – Eugênio Bispo, entre outras. Nossa música e a cidade de Estância devem muito à grande compositora e escritora Raimunda Andrelina.

Estância hoje é conhecida como a Capital do “Barco de Fogo”, um dos elementos

  

mais representativos dos festejos juninos, juntamente com o buscapé e o forró. O barco de fogo nasceu pelas mãos do fogueteiro Antônio Francisco da Silva Cardoso, conhecido como “Chico Surdo”, em 1930. Seu objetivo

era criar um barco que não necessitasse das águas do Rio Piauitinga para navegar. Chico Surdo construiu um barco de papelão grosso, movimentado por dois foguetes, que deslizava sobre um arame preso em dois mastros, passando de um lado a outro do rio. Ao longo dos anos, essa tradição foi se aprimorando e se transformou em uma rica tradição junina que

viaja pelos quatro cantos do País do Forró, sendo cantada em prosa, verso e música: forró, xote, xaxado, coco e baião.

Entre esses divulgadores tivemos e temos outros nobres do forró, que graças ao bom Deus, conheci e convivi com todos: Eugênio Bispo, o Bamba do Forró, cantor, compositor

e radialista, alagoano radicado em Estância desde os anos 80, com diversos discos gravados e muitas homenagens à sua cidade de coração. Entre seus sucessos estão: “São João de Estância”, “Forró do Balancé”, “Menino Solitário”, “Forró Maneiro”, “O Bamba do Forró”, “Forró da Juventude”, entre tantos outros.

Um dos mais tradicionais compositores e cantores da cidade é meu amigo Jorge Maravilha, um artista que dedicou a sua vida à arte e à música. Dono de uma voz potente, afinada e cheia de swing, Jorge Maravilha é radialista, cantor e compositor, sempre de braços dados com a poesia e a cultura popular. Começou como radialista, trabalhando no Rio de Janeiro e São Paulo.

Gravou seu primeiro disco ainda em São Paulo e voltou para Estância, onde se transformou em um dos mais conhecidos artistas da região. Suas canções sempre têm um conteúdo de valorização dos festejos juninos, cantando o Samba de Coco e o barco de fogo. Jorge Maravilha é uma maravilha para a música sergipana e, principalmente, para a cidade de Estância.

Fabio D’ Estância conheci nos festivais que coordenei, Sescação e Novo Canto. É o mais novo dos nobres de Estância. Fábio D’ Estância é cantor e compositor, com três discos gravados, destacando-se o “CD


Flor do Piauitinga”, que é autoral. Nele, se destacam as músicas “Barco de Fogo”, “Flor do Piauitinga” e “Estância, Tradição e Cultura”. Defensor da cultura estanciana, faz de sua vida artística uma bandeira erguida na luta por preservar e valorizar as tradições da cultura junina de sua paixão maior, Estância.

Zé Taquari

e Sebinho do

Acordeon,

dois grandes

sanfoneiros e

forrozeiros, nos

deixaram há

alguns anos. José

do Nascimento

Costa, conhecido

artisticamente

como Zé Taquari,

nascido na

cidade de Arauá,

ainda criança

veio estudar na

Escola Técnica

do Comércio

em Estância.

Aos 20 anos,

passou em um

concurso público para o Banco do Brasil. Após a aposentadoria, abriu um frigorífico

e foi radialista, apresentando um programa na Rádio Jornal FM e fazendo inúmeras participações no programa de Eduardo Abril

aos sábados na Ilha FM. Lembro de Zé pela sua voz forte, bem característica

de nordestino nato, cantando

e tocando sua sanfona no XPTO e nos arraiais, onde dividimos palcos por todo o nosso estado.

Zé Taquari era

um forrozeiro

de alto escalão,

cantor, compositor

e ótimo músico, compondo muitas canções, entre elas: “Gostoso de Amar”, “Nordeste Turístico”, “Forró dos Velhos”, entre outras. Gravou dois LPs e um CD. Em 2017, Zé Taquari participou da gravação do CD (En)Cantos

da Terra do Barco de Fogo, interpretando a música “Estância, Trinta Dias de Forró” da compositora Raimunda Andrelina.

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      ANO 4 - ED. 455 - 15/7/2024 - 68

 

Sebinho era um talentoso músico, forjado

na cultura popular e no pisa pólvora, com a banda Fauna e Flora, composta por Sebinho na sanfona, Edgar Soares no baixo, Tata di Tao na guitarra, Joélio e Leo na bateria. A banda tocava e encantava em todos os arraiais. Lembro quando eles inauguraram o Forródromo de Estância.

Nesse caldeirão repleto de filhos ilustres como Raimundo de Sousa Dantas, Graccho Cardoso, Gumercindo Bessa, Gilberto Amado, Ofenísia Freire, Hunald Alencar, Zé de Dome, Judith

Melo, Os Gêmeos Cosme e Damião, e Leonardo Fontes de Alencar, a maior riqueza são os festejos juninos e seus forrozeiros, fogueteiros, brincantes e o povo dessa cidade jardim.

Dentro do País do Forró, Estância é alma e coração, é zabumba e rojão, é importante por demais, essa cidade. E assim vou cantando para todo mundo ouvir: “Eta Estância Boa, Eta São João Arrochado, vem gente de todo canto forró pra todo lado”.

lNeu Fontes – Cantor, Compositor, Publicitário e Gestor Cultural.

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