Nos últimos meses, o município de Riachão do Dantas, no interior de Sergipe, tem enfrentado uma escalada alarmante de episódios envolvendo cidadãos em surto psicótico. Somente no primeiro semestre de 2025, pelo menos cinco ocorrências ganharam destaque na imprensa, revelando a gravidade da situação e, ao mesmo tempo, a fragilidade das políticas públicas locais voltadas à saúde mental.
O caso mais extremo ocorreu quando um homem, em surto, avançou com uma faca contra policiais militares e acabou sendo morto durante a intervenção. O episódio acendeu um alerta na comunidade e expôs não apenas o despreparo do município para lidar com tais crises, mas também a sobrecarga enfrentada pelas forças de segurança.
Mais recentemente, na manhã desta terça-feira (8), um novo episódio trouxe à tona a urgência do problema: um homem em surto psicótico agrediu o vigilante de uma unidade de saúde. O caso reforça a sensação de insegurança entre os profissionais e usuários do sistema de saúde municipal, além de evidenciar a ausência de protocolos adequados para lidar com pacientes psiquiátricos em crise.
Apesar da gravidade dos fatos, a Prefeitura de Riachão do Dantas mantém silêncio. A gestão municipal tem se mostrado inerte diante da crescente demanda por suporte em saúde mental. Enquanto isso, sobra para a Polícia Militar a tarefa de conter surtos, como se prender ou imobilizar pessoas em sofrimento psíquico fosse parte do papel constitucional da corporação. Não é.
O que se vê em Riachão é um claro desvio de responsabilidade. A atenção à saúde mental é dever da gestão municipal, especialmente da Secretaria de Saúde, que deveria oferecer estrutura, equipes especializadas e fluxos de atendimento humanizado. No entanto, diante da omissão da Prefeitura, a responsabilidade tem recaído sobre policiais militares que, além de atuarem sem preparo técnico para essas situações, ainda ficam expostos a riscos pessoais e a julgamentos públicos quando algo dá errado.
Em pleno 2025, com a saúde mental no centro do debate público nacional, é inadmissível que um município siga ignorando a gravidade dessa crise silenciosa. A falta de estrutura, por si só, pode até ser compreendida — muitos municípios enfrentam limitações orçamentárias. Mas a ausência de qualquer iniciativa é injustificável.
Se não há meios próprios para lidar com os casos, cabe à Prefeitura buscar ajuda. Acionar o Governo do Estado, firmar parcerias com centros especializados, solicitar apoio técnico e capacitar os profissionais da rede básica são passos urgentes. Ignorar o problema, no entanto, é condenar a população a viver sob risco constante.
A saúde mental é um direito. E sua negligência, como têm mostrado os casos recentes, pode ser fatal.