O advogado Fábio Trindade, responsável pela defesa da médica Daniele Barreto, afirmou que ela avisou à juíza durante audiência realizada nesta terça-feira, 9, no Fórum Gumersindo Bessa, em Aracaju, que tiraria a própria vida caso fosse reconduzida ao presídio. Horas depois, a médica foi encontrada morta em uma cela do Presídio Feminino de Nossa Senhora do Socorro (Prefem).
Em entrevista a uma rádio o advogado relatou que a declaração foi feita diante de familiares e pessoas presentes na sala de audiência.
“Assim que encerrou a audiência, acabou a gravação, na frente dos familiares, ela questionou a juíza: ‘doutora, eu vou para o presídio ou vou voltar para o meu tratamento?’ Aí a juíza respondeu: ‘você vai fazer seu tratamento no presídio, não se preocupe, quando chegar lá vai ter o tratamento para você’. Aí ela disse: ‘pois doutora, quando chegar lá eu vou me matar’. Ela falou isso. E se levantou e foi embora. A juíza não falou mais nada. Ficou calada. Eu estou de prova. A cunhada está de prova. O irmão está de prova. E uma equipe de jornalistas que estava acompanhando também está de prova”, disse ele.
Trindade contou ainda que permaneceu ao lado da médica até a chegada ao presídio, acompanhando de perto os últimos momentos dela. “Eu não saí de perto dela, meu amigo. Não abandonei em momento algum. Quem mais lutou por Dani fui eu, o irmão, a cunhada e uma amiga. Estávamos diuturnamente trabalhando para demonstrar a enfermidade dela. Quando ela entrou no presídio, nós viemos atrás, acompanhando no carro. Depois que todo mundo foi embora, eu insisti em falar com ela, assinei o livro de visitas e fiquei esperando. Estranhei a demora. Foi quando a diretora veio e disse: ‘olha, Daniele tentou se matar’. Mas depois soube que não foi uma tentativa, ela conseguiu”, completou.
O advogado também disse que havia alertado sobre o estado de saúde da cliente e o risco de suicídio. “Na audiência, eu falei da doença dela, disse que precisava de acompanhamento, que estava tentando se matar, tendo alucinações. Eu disse para a magistrada: ‘não acredito que vocês vão manchar suas mãos de sangue com isso’. Está registrado, inclusive com relatório médico que juntei ao processo. Fiz tudo o que podia. Mas sou apenas o meio, não o fim.”
Fábio Trindade destacou que Daniele vinha relatando pressões e receios em relação ao ambiente prisional. “O que ela me relatou foi que recebeu diversos recados da unidade, de que se ela entrasse ia ter algum tipo de intercorrência. Hoje, se me perguntar se ela estava sozinha ou acompanhada, eu não tenho como saber, porque não tive acesso à cela.”
O advogado encerrou afirmando que a responsabilidade pela morte da médica precisa ser investigada. “Ela disse na audiência, na frente de todos: ‘quando chegar lá eu vou me matar’. E isso está gravado. Ela avisou.”
A Secretaria de Estado da Justiça e de Defesa do Consumidor (Sejuc) confirmou em nota que a médica foi encontrada sem vida em uma cela individual, com um lençol no pescoço, e informou que a Polícia Civil investigará o caso.
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