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Cueca, curtidas e combustível: quando o marketing pessoal vira cortina de fumaça na gestão pública
Por André Morais
Publicado em 29/12/2025 12:26 • Atualizado 29/12/2025 12:31
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Enquanto prefeito de Canhoba vira atração nas redes sociais, gastos milionários em um município de menos de 4 mil habitantes levantam suspeitas e expõem o machismo e a falta de prioridades no poder público

 

O prefeito de Canhoba (SE), Cristophe Ferreira Divino, com aprovação estimada em 80%, resolveu comemorar mais um ano de vida de forma, no mínimo, inusitada: um ensaio fotográfico de cueca, amplamente divulgado nas redes sociais. O resultado foi imediato — chuva de curtidas, elogios, risadas e aplausos virtuais.

 

Até aí, cada um comemora como quer. O problema começa quando o episódio escancara um duplo padrão difícil de engolir.

 

Quando a prefeita de Marituba (PA), Patrícia Alencar, teve um vídeo íntimo vazado, dançando de biquíni, a reação foi brutal: linchamento virtual, ataques machistas, julgamentos morais e uma patrulha dos “bons costumes”.

Agora, um prefeito posa de cueca e vira celebridade digital.

 

Por que o homem pode e a mulher é apedrejada?

Isso não é moral. É machismo estrutural, seletivo e conveniente.

 

Como se não bastasse, o próprio prefeito teria comentado, com certo orgulho, que foi convidado para participar de um filme adulto . A internet riu, compartilhou e aplaudiu. Só ficou a dúvida que não quer calar: seria para papel ativo ou passivo?

 

Mas o Detetive Virtual Notícias não vive apenas de memes, cuecas e engajamento artificial. Foi atrás do que realmente importa: a gestão pública. E aí o riso dá lugar à preocupação.

 

Canhoba tem apenas 3.791 habitantes (IBGE/2022). Mesmo assim, os números oficiais chamam atenção:

 

R$ 1.127.049,02 – Revisão de veículos (Oficina de Bira – Aquidabã)

R$ 61.290,00 – Borracharia (Haja pneu furado!)

⛽ R$ 2.256.779,47 – Combustível

️ R$ 239.599,00 – Locação de máquinas

️ Valores elevados com impressoras e copiadoras

 

Diante disso, surgem perguntas simples — e absolutamente legítimas — que todo cidadão tem o direito de fazer:

 

Se os veículos vivem na oficina, como consomem tanto combustível?

Essa frota é compatível com um município de menos de 4 mil habitantes?

Com o que se gasta em locação e impressão, quantos computadores, veículos ou equipamentos próprios poderiam ter sido adquiridos para fortalecer as secretarias?

 

A cueca pode até render likes.

Mas gestão pública não se mede por curtidas, e sim por números, prioridades, responsabilidade e transparência.

 

E nisso, até agora, o figurino que mais falta é o da explicação.

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