Offline
DESO, Iguá e Aegea avançam em negociação para uma possível fusão: riscos e impactos no saneamento
Por André Morais
Publicado em 14/09/2025 14:20
Noticias

O setor de saneamento básico em Sergipe pode enfrentar um novo capítulo de incertezas. A Iguá Saneamento, que assumiu parte das operações da DESO em 74 municípios sergipanos, está em tratativas avançadas para uma possível fusão com a Aegea, maior operadora privada do país. A movimentação levanta preocupações sobre concentração de mercado, aumento das tarifas e enfraquecimento do controle público sobre um serviço essencial.

Riscos de concentração

Se confirmada, a fusão criaria um gigante privado com forte presença em diversos estados. Para especialistas, isso pode reduzir a concorrência em futuros leilões de concessão e aumentar a dependência de governos estaduais e prefeituras em relação a um único grupo econômico.

Além disso, críticos apontam que a consolidação pode limitar alternativas de gestão, comprometendo a qualidade do serviço caso metas não sejam cumpridas.

Impactos para Sergipe

Em Sergipe, a DESO continua responsável pela captação e tratamento da água bruta, mas a Iguá opera distribuição, coleta e esgoto. A entrada da Aegea no arranjo, por meio de fusão, pode alterar o equilíbrio do contrato firmado em 2024.

A principal preocupação é que uma mudança no controle acionário fragilize cláusulas de investimento e comprometa a execução do plano de universalização do serviço, que já enfrenta desafios em várias regiões do estado.

Pressão financeira e tarifas

Fontes do mercado afirmam que a fusão seria motivada pela pressão financeira da Iguá, que precisa cumprir compromissos bilionários em estados como Rio de Janeiro e São Paulo. O temor é que esse passivo seja repassado, direta ou indiretamente, aos consumidores por meio de aumentos tarifários ou cortes em investimentos locais.

Vozes críticas

Representantes de sindicatos do setor alertam que a fusão pode significar “mais lucro para acionistas e menos compromisso com o povo”, lembrando que o saneamento é um direito social e não apenas um mercado.

Movimentos populares também se manifestaram, destacando que “a água não pode ser tratada como mercadoria” e cobrando maior transparência sobre os impactos da negociação.

Já especialistas em políticas públicas lembram que fusões desse porte, embora comuns em setores estratégicos, “tendem a concentrar poder e reduzir o espaço para fiscalização efetiva”, o que aumenta a necessidade de atuação firme dos órgãos reguladores.

Cade e regulação

Caso a fusão seja confirmada, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deverá analisar os riscos de concentração de mercado. No entanto, há dúvidas se a regulação será suficiente para impedir que a fusão comprometa a concorrência e a prestação dos serviços em estados como Sergipe.

A disputa pelo saneamento

A negociação reforça a percepção de que o saneamento se tornou um campo de disputa entre grandes conglomerados privados, movidos pelo potencial de lucros bilionários. Nesse cenário, o desafio é equilibrar interesses de mercado com a garantia de que a população, especialmente em regiões mais pobres, não fique em segundo plano.

Comentários